Web3 e os limites da liberdade de expressão



Jeferson Silva - PU3OSI



Se você cadastrou seu e-mail para acompanhar minhas postagens, provavelmente notou que às vezes comento sobre algumas ferramentas descentralizadas. O uso de tecnologias experimentais é relevante se você pretende compreender melhor as mudanças sociais e suas tendências.

Testar novas tecnologias para analisar usabilidade e tendências é uma boa forma de acompanhar os caminhos que a sociedade elege para supostamente se organizar melhor.

Algumas tecnologias fracassam quase que imediatamente após seu lançamento, outras ganham força e alteram a forma como nos comportamos. Nesse sentido, a tecnologia Web3 parece estar ganhando força, ainda que lentamente, colocando em pauta o fenômeno da liberdade de expressão.

A Web3 é um modelo de organização social e tecnológica que está em constante desenvolvimento para entregar aos usuários um tipo de liberdade polêmica quando o assunto é bem-estar social e limites de expressão.

No modelo atual de organização social e tecnológica, as pessoas possuem seus impulsos de comunicação regulados pelas instituições, as postagens são moderadas e as empresas podem ser responsabilizadas juridicamente. Esse modelo de regulação gera algum bem-estar social ao conter impulsos negativos por meio da centralização dos dados e garantir uma correta identificação das pessoas.

Preconceitos, ofensas, discursos de ódio e outras ações danosas são amenizadas pela moderação e, em alguns casos, punição. No modelo atual, que é centralizado, as pessoas são facilmente identificadas e responsabilizadas. Por outro lado, abusos institucionais, calando protestos legítimos e forçando uma narrativa de quem está no controle, são um efeito colateral indesejado que ocorre com frequência nesse tipo de organização.

No modelo da Web3, a proposta é passar o controle dos dados aos seus usuários, sem mediação institucional, além de descentralizar os servidores, dificultando a censura. Como não existe um servidor central, é difícil retirar do ar um dado conteúdo. Sendo os dados não legitimados por uma empresa, a identidade da pessoa pode ser falsa ou ocultada, ficando anônima.

Uma tecnologia experimental (mas centralizada) bem-sucedida apontando nesta direção foi o fórum 4chan, fundado em 2003 e ativo até hoje, com mais de doze milhões de visitantes por mês, sendo considerado o fórum online mais acessado do mundo.

O fórum 4chan é de postagem anônima, não possui cadastro e a consequência é uma grande propagação de informações falsas, teorias da conspiração e pessoas não identificadas.

Outra experiência (também centralizada) foi a rede social GAB, lançada em 2016 como uma alternativa ao Twitter, capaz de proporcionar e garantir liberdade de expressão. Essa rede social enfrentou diversos problemas, perda de parcerias e muita confusão com postagens de discursos de ódio, entre outras expressões danosas para a nossa sociedade.

O projeto da Web3 tenta resolver os problemas de censura abusiva das instituições centralizadas, proporcionando meios para uma liberdade saudável e necessária, que pode ser alcançada pela descentralização e controle dos dados gerenciado pelo próprio usuário.

Na prática, ainda é cedo para saber se o esforço dos desenvolvedores da Web3 é uma utopia ou algo tangível de ser realizado.

Uma grande dificuldade que encontrei ao experimentar tecnologias Web3 foi a falta de usabilidade para não tecnólogos. Em geral, as tecnologias Web3 exigem conhecimento técnico prévio, afastando a maioria das pessoas.

Outro desafio para os desenvolvedores Web3 é a falta de propagação e entendimento da proposta que norteia esse modelo. A maioria das pessoas está interessada no uso prático e não no modelo social que fundamenta uma dada solução tecnológica.

A ausência de conhecimento da fundamentação social-tecnológica gera muita confusão e problemas de mau uso das tecnologias. O Bitcoin é um bom exemplo, é uma tecnologia experimental focada na liberdade econômica ao dispensar intermediários como bancos e instituições regulatórias. No entanto, acumulou uma grande quantidade de pessoas especulando pela possibilidade de ficarem ricos, tornando-se alvos fáceis de golpistas que aproveitam do impulso ganancioso da vítima para enganar e roubar.

Tecnologias experimentais são, em certa medida, experimentos sociais. Compreender a fundamentação de tais experimentos e seus resultados é importante para uma transformação saudável das relações sociais e uma forma de melhor orientar as pessoas em seu entorno.

Pais, professores e educadores em geral, podem ficar melhor preprados ao compreender os modelos sociais que estão em disputa na produção tecnológica.

Para entender os aplicativos, protocolos e soluções baseadas na web3 é aconselhavél conhecer o problema fundamental da liberdade de expressão e organização dos modelos sociais que essa proposta busca aperfeiçoar.

Se você puder, separe uns minutos para ler esse artigo: Liberdade de expressão e discurso do ódio: um exame sobre as possíveis limitações à liberdade de expressão.

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