Web3 e suas fragilidades



Jeferson Silva - PU3OSI

Personalidades como Tim Berners-Lee, criador do protocolo World Wide Web (www), Elon Musk, conhecido bilionário da área tecnológica, e Jack Dorsey, fundador do Twitter, são alguns dos críticos da tecnologia chamada de Web3.

Para Berners-Lee, é inadequado considerar a tecnologia Web3 como a próxima geração da internet, já que o armazenamento de dados precisa ser privado, rápido e barato, o oposto do sistema Web3 que, segundo Berners-Lee, é lento, caro e público. Elon Musk e Jack Dorsey também expressaram sua visão, considerando que a Web3 parece mais uma jogada de marketing do que uma tecnologia viável para uma nova internet 100% descentralizada.

É comum ocorrerem alguns exageros motivados pelo entusiasmo quando do surgimento de uma novidade tecnológica, e parece ser o caso da Web3, principalmente diante da afirmação categórica de que a descentralização será a nova forma de interação na internet, sugerindo que a centralização é algo ultrapassado.

Pode ser relevante não esquecermos que desde nossa migração de caçadores-coletores para uma sociedade assentada na agricultura e na formação de comunidades fundamentadas em cidades, nos concentramos na centralização como caminho para o desenvolvimento social.

Olhando para a história da internet, percebemos que, de fato, ela surgiu como um fenômeno descentralizador. Quando a internet foi criada nas décadas de 1960 e 1970, ela era projetada como uma rede descentralizada. A origem da internet remonta ao projeto ARPANET, financiado pelo Departamento de Defesa dos Estados Unidos, com o objetivo de criar uma rede de comunicação robusta e resistente a falhas, que pudesse manter a conectividade mesmo em caso de ataques militares.

Essa natureza descentralizada da internet foi fundamental para seu crescimento exponencial e disseminação global. No entanto, ao longo do tempo, algumas formas de centralização surgiram em certos aspectos da internet, como em plataformas de mídia social, provedores de serviços de internet (ISPs) e empresas que controlam infraestruturas críticas.

Assim como nosso desenvolvimento social evoluiu de ações descentralizadas de caçadores-coletores para a centralização na agricultura e o surgimento de grandes centros urbanos, na internet nos organizamos de tal forma que alimentamos e mantemos grandes plataformas com alguma centralização de poder, como o Google, a Apple, entre outras. Passamos para o algoritmo dessas plataformas o poder de mediar as relações e ações humanas.

No entanto, parece pouco provável que nossos instintos sociais optem pela total descentralização da internet, contrariando nossa tradição evolutiva que emergiu de escolhas centralizadoras. O esperado é que, passada a euforia e os exageros dos mais entusiasmados, a proposta da Web3 enquanto descentralização ocupe seu lugar em um mundo centralizado como forma de mitigar abusos.

Não se trata de superar a centralização mas de mitigar abusos produzidos por esta, como dificultar a corrupção política, a censura indiscriminada, ou ainda, diminuir o poder em certos setores como a invasão de privacidade e o uso inadequado dos dados dos usuários. Estas são algumas possibilidades que a consolidação da Web3 tem potencial de melhorar.

Mesmo os mais críticos da Web3 admitem que existe lugar para esta tecnologia, não como fenômeno soberano de superação da internet centralizada, mas como ferramenta de apoio para uma centralização mais justa aos interesses da sociedade.

Neste momento é importante uma maior atenção sobre:

Caráter experimental: A tecnologia por ser experimental provavelmente vai atrair uma gama significativa de desenvolvedores e investidores, gerando o surgimento de propostas inovadoras que em sua maioria podem se mostrar insatisfatórias deixando de existir. Apostar em projetos inovadores é assumir riscos.

Centralização disfarçada: Embora a Web3 prometa descentralização, muitos críticos apontam que ainda existem elementos de centralização, especialmente nas plataformas e aplicativos populares. Alguns afirmam que grandes empresas e consórcios podem dominar o espaço, controlando protocolos e definindo regras, o que pode minar o princípio da descentralização.

Complexidade e acessibilidade: A Web3 ainda é relativamente complexa para a maioria dos usuários comuns, o que pode dificultar a adoção em massa. Além disso, a falta de acessibilidade pode excluir certos grupos de participar plenamente da web3, criando potencialmente mais desigualdades.

Perda de controle e recuperação de dados: Como a Web3 é baseada em tecnologias descentralizadas, a recuperação de dados perdidos ou a correção de erros pode ser um desafio, pois não há uma entidade central para intervir.

Regulação e conformidade: A natureza descentralizada da Web3 pode criar desafios para a aplicação de regulamentações e leis. Isso pode levar a cenários em que atividades ilegais ou prejudiciais são mais difíceis de serem controladas e punidas.

Especulação e bolhas: Algumas críticas apontam para a presença de especulação exagerada no mercado de criptomoedas e ativos digitais na Web3, levando a bolhas e riscos significativos para os investidores.

No entanto, ao mesmo tempo que existem riscos, também é possível mensurar benefícios na implementação de sistemas baseados em Web3, entre eles:

Maior Segurança Cibernética: Em sistemas descentralizados, os dados e as operações não estão concentrados em um único ponto central, tornando-os menos vulneráveis a ataques cibernéticos direcionados a um único ponto de falha. Isso aumenta a resistência da rede e melhora a segurança dos dados.

Resistência a falhas: A descentralização permite que a rede continue operando mesmo que algumas partes dela enfrentam problemas ou falhas. Isso torna a infraestrutura mais robusta e confiável, reduzindo o risco de interrupções generalizadas.

Autonomia do Usuário: Em sistemas descentralizados, os usuários têm maior controle sobre seus dados e identidade. Eles não precisam confiar em uma autoridade central para gerenciar suas informações pessoais e financeiras.

Redução do Risco de Censura: A descentralização dificulta a censura e a manipulação de informações, pois não há uma única entidade com controle sobre a rede. Isso é especialmente importante em ambientes onde a liberdade de expressão e o acesso à informação são fundamentais.

Inclusão Financeira: A descentralização pode democratizar o acesso a serviços financeiros, permitindo que pessoas sem acesso a instituições financeiras tradicionais participem da economia global através de criptomoedas e finanças descentralizadas (DeFi).

Transparência e Imutabilidade: A tecnologia blockchain, frequentemente usada em sistemas descentralizados, oferece um registro transparente e imutável de transações e atividades. Isso aumenta a confiança e a prestação de contas dentro da rede.

Inovação Aberta e Colaborativa: A descentralização pode fomentar a inovação aberta e a colaboração entre diferentes partes interessadas. Isso permite que projetos e plataformas se desenvolvam com base nas contribuições de uma comunidade diversificada de desenvolvedores e usuários.

Propriedade dos Ativos Digitais: Em sistemas descentralizados baseados em blockchain, os usuários têm controle direto sobre seus ativos digitais, como criptomoedas e tokens não fungíveis (NFTs), sem a necessidade de intermediários.

Menos Dependência de Terceiros: A descentralização reduz a dependência de empresas e instituições centralizadas, proporcionando uma estrutura mais resiliente e independente.

Flexibilidade e Adaptabilidade: Sistemas descentralizados são geralmente mais flexíveis e adaptáveis a mudanças e evoluções, pois não precisam passar por processos burocráticos complexos para implementar atualizações e melhorias.

Compreender a proposta e como está se desenvolvendo o modelo Web3 pode ser decisivo para que você aproveite as oportunidades que são próprias das tecnologias emergentes.

Na medida do possível, não deixe de observar como e para qual direção a Web3 está se direcionando, especialmente projetos baseados em Blockchain do Bitcoin, como o Nostr, ou ainda, a rede lightning.

Iniciar pelo conceito de descentralização presente nos fundamentos do Bitcoin pode ser uma boa forma de entender tudo que emergiu depois, distinguindo o marketing das propostas efetivas.
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